domingo, 6 de novembro de 2016

Sobre vidências e evidências

Assim como a Itabira de Drummond, Belo Horizonte será apenas um retrato na parede: a partir de 1º de janeiro, passa a se chamar Cidade do Galo, com aqueles letreiros iguais aos de Hollywood




Muito se fala na falência do jornalismo, esse ofício que nos dias atuais parece o do motorneiro de bonde quando inventaram o automóvel. Quanta maledicência! O jornalismo investigativo está mais vivo do que nunca. Prova disso é o incrível furo que um telejornal da Globo deu quando anunciou, ainda na madrugada de quinta, o resultado do “sorteio” dos mandos de campo na final da Copa do Brasil, que só aconteceria na sexta. Um espanto! Algo jamais visto desde que Gutemberg inventou a imprensa.

Coitados do Bob Woodward e do Carl Bernstein, os repórteres de Watergate, perto desses perdigueiros da informaçãolotados muito além do Jardim Botânico – no Além mesmo, ao que parece. O furo da Globo deve ter impacto mundial: escolas de comunicação de todo o planeta se apressarão a adotar a disciplina de vidência, ensinando a técnica de apuração através das bolas de cristal. Já vou avisando aos jovens repórteres: Mãe Dinah é minha fonte desde os tempos do Estadão, só fala comigo. Achem vocês suas próprias cartomantes.

Feita essa digressão a respeito do futuro do jornalismo, vamos ao que interessa: o Galo está na final da Copa do Brasil. É a oitava final em apenas três anos! Cinco vezes fomos campeões: da Libertadores em 2013, da Recopa e da Copa do Brasil em 2014, além de dois Mineiros. Se nenhuma tragédia acontecer, disputaremos em 2017 a quinta Libertadores consecutiva, quatro delas nos classificando diretamente à fase de grupos (ano que vem ainda não se sabe, mas eu vou dar uma ligada pra Mãe Dinah e publico o furo mais adiante).

Nesse período, estão ou estiveram no Galo, entre tantos outros heróis, Ronaldinho Gaúcho, Tardelli, São Victor, Lucas Pratto, Fred, Robinho. Segundo o comentarista da Globo News dr. Cuca Beludo, arrancaram o Anelka Unha quando souberam que ele viria, e só por isso ele não veio. Mas tudo bem, não vem Anelka, vem o Pratto; não o vem o Forlán (quem se lembra?), vem R10. O Galo virou uma máquina de converter criança e catequizar adulto.

Nos últimos anos, o Atlético passou a congregar a quinta ou sexta maior torcida do Brasil, a primeira fora de Rio e São Paulo. Sua camisa é reconhecida mundialmente, assim como seu Centro de Treinamento. Em termos locais, o segundo turno da eleição para a Prefeitura de BH foi entre o ex-goleiro do Atlético e seu eterno presida – não precisa ser vidente pra saber qual torcida é a maior de Minas. É evidente.

Assim como a Itabira de Drummond, Belo Horizonte será apenas um retrato na parede: a partir de 1º de janeiro, passa a se chamar Cidade do Galo, com aqueles letreiros iguais aos de Hollywood instalados nas montanhas acima da Praça do Papa, na Serra do Curral. No lugar do pirulito da Praça Sete, sem nenhum sentido, teremos a perna esquerda de São Victor. Em vez da estátua de Tiradentes, um tanto fora de proporção, um Reinaldo com o punho cerrado. O bairro do Cruzeiro ganha uma trema: Crüzeiro. Se reclamar, vira Atlético.

Dentro de campo, no presente momento, o Galo não tá essa Coca-Cola toda – pode ser Pepsi? A defesa não funciona, a despeito de Gabriel ser a nossa melhor revelação da temporada. Carlos César voltou a ser Carlos César. Erazo é um misto de Leonardo Silva e Werley. Ninguém sabe se Marcelo Oliveira é um burro com sorte, como Levir, ou um gênio incompreendido, um Joel Santana falando inglês quando treinou a Seleção da África do Sul.

Apesar dos pesares, seremos bicampeões. Não importa se a finalíssima será em Porto Alegre. Contra o Crüzeiro, o mando de campo também não era nosso e ganhamos as duas. Até a pé voltaremos, pagando nossas promessas! Enquanto não chega o dia 30, galgaremos os degraus da tabela no Brasileirão, o Palmeiras não ganhará mais nenhuma, o Flamengo botará tudo a perder e o Santos se contentará com o vice-campeonato. Não sou eu que tô dizendo – acabei de falar com a Mãe Dinah, a Globo deve confirmar logo mais.

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