sexta-feira, 15 de abril de 2016

Antigamente

ANTIGAMENTE, as moças chamavam-se mademoiselles e eram todas mimosas e muito prendadas. Não faziam anos: completavam primaveras, em geral dezoito. Os janotas, mesmo não sendo rapagões, faziam-lhes pé-de-alferes, arrastando a asa, mas ficavam longos meses debaixo do balaio. E se levavam tábua, o remédio era tirar o cavalo da chuva e ir pregar em outra freguesia. As pessoas, quando corriam, antigamente, era para tirar o pai da forca e não caíam de cavalo magro. Algumas jogavam verde para colher maduro, e sabiam com quantos paus se faz uma canoa. O que não impedia que, nesse entrementes, esse ou aquele embarcasse em canoa furada. Encontravam alguém que lhes passasse a manta e azulava, dando às de vila-diogo. Os mais idosos, depois da janta, faziam o quilo, saindo para tomar fresca; e também tomavam cautela de não apanhar sereno. Os mais jovens, esses iam ao animatógrafo, e mais tarde ao cinematógrafo, chupando balas de altéia. Ou sonhavam em andar de aeroplano; os quais, de pouco siso, se metiam em camisa de onze varas, e até em calças pardas; não admira que dessem com os burros n’água.

HAVIA OS QUE tomaram chá em criança, e, ao visitarem família da maior consideração, sabiam cuspir dentro da escarradeira. Se mandavam seus respeitos a alguém, o portador garantia-lhes: “Farei presente.” Outros, ao cruzarem com um sacerdote, tiravam o chapéu, exclamando: “Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo”, ao que o Reverendíssimo correspondia: “Para sempre seja louvado.” E os eruditos, se alguém espirrava 
 sinal de defluxo  eram impelidos a exortar: “Dominus tecum”. Embora sem saber da missa a metade, os presunçosos queriam ensinar padre-nosso ao vigário, e com isso metiam a mão em cumbuca. Era natural que com eles se perdesse a tramontana. A pessoa cheia de melindres ficava sentida com a desfeita que lhe faziam, quando, por exemplo, insinuavam que seu filho era artioso. Verdade seja que às vezes os meninos eram mesmo encapetados; chegavam a pitar escondido, atrás da igreja. As meninas, não: verdadeiros cromos, umas tetéias.

ANTIGAMENTE, certos tipos faziam negócios e ficavam a ver navios; outros eram pegados com a boca na botija, contavam tudo tintim por tintim e iam comer o pão que o diabo amassou, lá onde Judas perdeu as botas. Uns raros amarravam cachorro com lingüiça. E alguns ouviam cantar o galo, mas não sabiam onde. As famílias faziam sortimento na venda, tinham conta no carniceiro e arrematavam qualquer quitanda que passasse à porta, desde que o moleque do tabuleiro, quase sempre um cabrito, não tivesse catinga. Acolhiam com satisfação a visita do cometa, que, andando por ceca e meca, trazia novidades de baixo, ou seja, da Corte do Rio de Janeiro. Ele vinha dar dois dedos de prosa e deixar de presente ao dono da casa um canivete roscofe. As donzelas punham carmim e chegavam à sacada para vê-lo apear do macho faceiro. Infelizmente, alguns eram mais do que velhacos: eram grandessíssimos tratantes.

ACONTECIA o indivíduo apanhar constipação; ficando perrengue, mandava o próprio chamar o doutor e, depois, ir à botica para aviar a receita, de cápsulas ou pílulas fedorentas. Doença nefasta era a phtysica, feia era o gálico. Antigamente, os sobrados tinham assombrações, os meninos lombrigas, asthma os gatos, os homens portavam ceroulas, botinas e capa-de-goma, a casimira tinha de ser superior e mesmo X.P.T.O. London, não havia fotógrafos, mas retratistas, e os cristãos não morriam: descansavam.

MAS TUDO ISSO era antigamente, isto é, outrora.


C.D.A



Poema usado na prova que fiz essa semana...

quinta-feira, 14 de abril de 2016

domingo, 10 de abril de 2016



“Mamãe sabe mais!” essa frase de mamãe Gothel define um lado sombrio do signo de Câncer: a mãe devoradora! Dramática, chantagista, fantasiosa, Gothel não permite que Rapunzel cresça para satisfazer seus caprichos. Assim como os nativos de Câncer, ela parece abnegada, mas no fundo é bastante egoísta e quer todos embaixo de suas asas. Muitas mães (e pais também) cancerianas não permitem que os filhos cresçam, pois assim perdem sua referência. Se não desenvolverem outras facetas de sua personalidade, que não seja a maternidade, pode agir como Gothel e encarcerar os filhos e seus projetos criativos também em uma torre.

sexta-feira, 8 de abril de 2016

Sabe quando a gente precisa tomar uma grande decisão e parece que tem um anjinho e um diabinho de cada lado do nosso ombro nos dando a sua visão?


Então, eu não tive isso, tive duas mães, a M1 e a M2.

A M1 é medrosa, controladora e queria me ver sempre embaixo de suas asas, a M2 era corajosa, aventureira e sempre me incentivava (com cuidados, é claro).

Quatro anos atrás eu perdi a M2, não sabia o que doía mais, se era ver como ela estava sofrendo e lutando bravamente contra aquela doença terrível ou não a ter mais entre a gente.

Mesmo não estando mais fisicamente entre a gente eu não deixo de pensar sempre que estou com alguma dúvida e saiba que todas as minhas aventuras e conquistas recentes são dedicadas a você. Obrigada por cada momento, conselho e aventura.


"Ti dico ciao
E non è un addio
La memoria di te
Sovrasta il vocio
Lascia il ricordo
Dei consigli tuoi
Che adesso rimpiango
Che adesso vorrei"